segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A estepe




Para pessoas não habituadas á observação da natureza, a estepe pode aparecer como um meio monótono, sem vida e infinitamente menos atraente que a montanha e a selva. O tópico, como todos os tópicos é só uma aparência. As maiores biomassas, isto é, o peso de seres vivos por unidade produzem-se nas estepes do Serengueti, em África.
A estepe de cereais da Península Ibérica, em algumas zonas do Alentejo, com as suas abetardas, sisões, alcaravões, cortiçois, estorninhos, grous, petinhas, codornizes, perdizes, é mais rica em numero de indivíduos e em peso de matéria viva que qualquer montanha ou floresta da Península. Mas não há duvida que a vida se traduz também em som, não só em volume de matéria organizada. Neste aspecto, a torrente de gorjeios que se desprende do céu numa manha de Primavera, medido com um gravador, é também mais intenso e extenso que o conjunto dos cantos dos pássaros de qualquer massa florestal. Como é sabido até pelos meninos, os protagonistas do fantástico concerto das estepes são os alaudídeos especialmente as Calhandras e as Lavercas. Contudo, o que já não é tão conhecido é o feito “heróico”- deste o ponto de vista humano- de que os machos das Lavercas que cantam no ar, enquanto a fêmea incubam nos torrões, não só defende os territórios dos outros machos competidores, que actuam também como sinais vivos, como autênticos pilotos suicidas, para atrair sobre eles próprios o ataque do Falcão-peregrino ou do Ógea, que atravessam o céu como projécteis.

Texto retirado de: Cadernos de Campo- Passaros de Campo Aberto
Autor: Dr. Félix Rodrígues de la Fuente.

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